Abril |
April |
Bina Tangerina
Rita Castilho
CCMAR - Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve
Como é ser uma cientista?
Tell us about your experience as woman and scientist. O interesse pela biologia marinha surgiu nos meus primeiros verões passados nas praias rochosas do Alentejo. Essas praias têm imensas poças de maré povoadas por uma imensidade de organismos diferentes: algas, anémonas, moluscos, camarões, caranguejos e peixes e eu passava toda a maré vazia a observar como se comportavam, alimentavam e interagiam. Os peixes fascinaram-me desde sempre com a sua variedade de habitats, cores, modos de reprodução e por isso acabei por trabalhar com eles. No entanto, a biologia é uma área muito vasta, e apesar de tradicionalmente os biólogos se especializarem em determinado grupo taxonómico, a minha aproximação é um pouco diferente. Eu estou mais interessada numa classe de problemas relacionados com a evolução e que são transversais a muitos organismos: Como se gera a variabilidade dentro e entre populações da mesma espécie? Como é que indivíduos da mesma espécie divergem e se estabelecem como um grupo distinto? Como é que determinadas barreiras oceanográficas afectam a conectividade entre indivíduos da mesma espécie? O facto de ter uma profissão que adoro tem prós e contras. A grande vantagem é que o trabalho passa a não ser uma tarefa, antes pelo contrário, é algo que entusiasma e distrai. No entanto, porque não “sabe” a trabalho, frequentemente passo fins de semana e feriados ao computador ou a ler artigos. Confúcio dizia: “Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida!”, e é verdade! Não posso dizer que o facto de ser mulher me tenha de algum modo prejudicado. Tive sorte de ter chegado à Universidade muito depois da revolução de Abril e isso permitiu-me ter um caminho mais fácil. Por outro lado, o facto de muito cedo ter decidido não ter filhos, fez com que não sentisse a pressão de acumular papéis distintos e quase não sobreponíveis resultantes de se criar uma família. My attraction for marine biology emerged during the first summers I spent on the rocky shores of Alentejo. These beaches have countless marine rocky pools inhabited by many different organisms: algae, anemones, molluscs, shrimps, crabs, and fishes. When the tide was low, I would spend the time observing their behaviour and how they fed and interacted. Fish have always fascinated me with their variety of habitats, colours, and modes of reproduction, and thus I ended up working with them. Yet, biology is a vast subject, and although it is customary to have biologists specialising in a particular taxonomical group, I took a different approach. I am more interested in a specific kind of questions related to evolution, transversal to many organisms: how is diversity generated within and between populations of the same species? How do individuals from the same species diverge and establish themselves as a distinct group? How do oceanic barriers affect the connectivity of individuals from the same species? Having a job that you love has its pros and cons. The main advantage is that work becomes more than a simple task but something exciting and delightful. It does not feel like "work". I frequently spend my weekends at work or reading science. It is believed that Confucius once said: "Choose a job you love, and you will never have to work a day in your life", and it is true! I can't say that being a woman has impaired my career in any way. I was lucky enough to arrive at the University way after the April revolution, which has granted me an easier path. Conversely, having decided quite early not to have children allowed me to avoid accumulating distinct and barely overlapping roles like those resulting from raising a family. |
Que outra cientista te inspirou?
Tell us about another scientist that has inspired you. Sem sombra de dúvida, a escolha recai sobre Lynn Margulis (1938-2011). Foi esta investigadora que propôs pela primeira vez a Teoria da Endossimbiose que sugere que determinados organelos presentes nos eucariotas tenham surgido na sequência de uma relação simbiótica estável entre bactérias. O seu trabalho foi rejeitado por 15 jornais científicos! Mas Margulis perseverou e finalmente em 1967 foi publicado. Margulis também se dedicou a desenvolver a hipotese de Gaia, propondo que o planeta se comporta como um sistema auto-regulado. Foi a perseverança e capacidade de se dedicar sem complexos a desenvolver ideias pioneiras e inovadoras que me entusiasmou. Um pormenor interessante é que Margulis foi casada com Carl Sagan, mas numa altura em que as mulheres eram conhecidas pelos maridos, Margulis obteve estatuto próprio por mérito próprio. Frequentemente, penso de que falariam os dois ao pequeno almoço: cosmos ou bactérias? My choice goes undoubtedly to Lynn Margulis (1938-2011). This researcher proposed the endosymbiotic theory, which suggests that specific organelles in eukaryotes derived from a very stable symbiotic relationship between bacteria. Her work was rejected by 15 scientific journals! However, Margulis persisted and finally saw her work published in 1967. Margulis also developed the Gaia hypothesis, proposing that our planet behaves as a self-regulating system. Her perseverance and ability to dedicate herself without prejudice to developing pioneering and innovative ideas have fascinated me. Interestingly, Margulis was married to Carl Sagan, and, in a time when women were recognised mainly by their husband's name, Margulis carried her name due to her own merits. I frequently wonder what they would chat about at breakfast: the cosmos or bacteria? |