Numa escola amarela não muito grande, existia uma turma muito bem comportada com pessoas e animais, todos diferentes, que se adoravam. Mais uma semana de aulas tinha passado e a professora girafa explicava os trabalhos de casa. - Têm de fazer um trabalho sobre uma história do passado e têm de o apresentar para a próxima semana. Podem sair. Bom fim de semana! - Anunciou a professora girafa.
- Bom fim de semana, professora! - Responderam os alunos em uníssono.
Entre eles, estava o rinoceronte Rino, curioso e aventureiro. Tinha perdido os seus pais, que foram mortos por caçadores malvados, por isso foi viver com uns aldeões que o adotaram como filho. Nesse dia, quando contou ao seu irmão, Jacinto, que tinha de fazer um trabalho de história, o seu irmão teve uma ideia para o ajudar.
- Podias usar a minha máquina do tempo e escolher a época para onde queres regressar. Eu até tenho uma sugestão. - Qual é a época que sugeres? - Perguntou Rino. - Na época da Revolução Industrial, numa terra longínqua, havia um rei que se apaixonou por uma aldeã. Eles amavam-se, porém, um dia, houve um incêndio inexplicável. - Ela foi para o céu? – Interrogou Rino entristecido. - Para descobrir, tens de viajar para outro tempo, para 1790. Assim também testas a minha nova invenção. -Obrigado, maninho! – Agradeceu, entusiasmado.
Rino preparou uma mochila com tudo o que julgava ser necessário para documentar a sua aventura e, logo de seguida, entrou na máquina do tempo.
-UOUOOUOUOUOUOU! Que viagem! Sinto-me um pouco enjoado. – Ziguezagueou meio tonto.
Rino foi parar a uma praça da terra que o seu irmão lhe tinha indicado. Viu várias casas pobres feitas de pedra e telhado de palha. Havia várias pessoas a trabalhar nos seus campos, vestidas com roupas esfarrapadas e descalças. O ar tinha um leve cheiro a fumo, que Rino presumiu ser das fábricas que estavam por perto. Havia também muitas árvores. Algumas delas tinham umas borboletas brancas e pretas. Como naquela altura ainda não havia internet, Rino procurou num livro, que trazia na mochila, essa espécie: Biston betularia. Havia mais borboletas brancas do que pretas, pois, como os troncos, onde pousavam, eram esbranquiçados, as borboletas claras estavam camufladas, resultando então que os predadores reparavam mais nas escuras e comiam-nas. O rinoceronte tirou algumas fotografias às borboletas e foi explorar a cidade.
- Aiiiii!- Gritou Rino, pois tinha acabado de pisar uma pedra.- Está bem?- Perguntou alguém, com uma voz preocupada.- Eu sou a Gracinha e este é o meu namorado, o Rei Solteirão.Então era deles que o irmão de Rino tinha falado. Gracinha era uma rapariga muito bonita, de cabelo loiro e de olhos azuis. Ela estava sempre contente e adorava animais. O Rei Solteirão era um homem alto, de cabelo castanho claro e de olhos igualmente castanhos.
- Sim, só pisei uma pedra. Obrigado pela preocupação. Eu sou o Rino. – Apresentou-se - Não é de cá, pois não? - Não, sou da cidade vizinha.
Rino não gostava de mentir, mas não podia mudar o passado. Isso traria grandes mudanças para o futuro. Uma borboleta branca pousou na mão de Gracinha.
- Esta espécie de borboleta é uma das minhas preferidas. Porém, gosto mais das pretas, que são mais raras, porque se notam mais, e por isso são devoradas pelos predadores. - Parece saber muito de animais. – Afirmou Rino. - Como é que a Gracinha e o seu namorado, perdão, o Rei, se conheceram? – Perguntou, curioso. - Um dia, fui passear pelo reino e vi a Gracinha. Apaixonei-me completamente naquele momento. - Disse o Rei, com um sorriso no rosto.
Rino anotou tudo no cérebro para mais tarde colocar no seu trabalho.
- Agora, nós precisamos ir embora. Foi um prazer conhecê-lo. Adeus. -Adeus. – Despediu-se Rino, fazendo uma vénia.
Quando se estavam a afastar, o rinoceronte tirou-lhes uma foto para colocar no seu trabalho. Depois observou atentamente a tal espécie de borboletas e lembrou-se de que já tinha falado sobre ela nas aulas de ciências. Foi à sua mochila buscar um dos seus livros e viu que aquela espécie tinha evoluído ao longo do tempo. Então, decidiu que desenvolveria os dois temas no seu trabalho. O rinoceronte ia tirando fotografias aqui e ali, mas discretamente, porque não podia deixar ninguém ver o seu telemóvel, já que naquela época ainda não tinha sido inventado.
Decidiu meter os pés ao caminho para ir ver o castelo onde o Rei vivia. Avistou Gracinha ao fundo da rua com uma mulher, mas a sua barriga começou a roncar então, antes de as seguir, foi comer qualquer coisa. Procurou, procurou e procurou, até que achou um restaurante para os turistas. Entrou e comeu. Ao seu lado, estavam duas mulheres muito bem vestidas. Estavam a falar de Gracinha e Rino percebeu que tinham comentado que ia com a madrasta do Rei a um local de massagens. O rinoceronte pagou e seguiu caminho. Quando chegou ao espaço de que ouvira falar, estava trancado. Como é que isso era possível se as senhoras tinham afirmado que elas iam para aquele lugar? Pensou um bocado, mas não encontrou nenhuma explicação.
De repente, começou a ouvir um pedido de socorro que vinha do local das massagens. Arrombou a porta e procurou. O grito ecoava de uma zona que estava trancada e Rino arrombou outra porta. Cheirava muito a fumo e as chamas avançavam furiosas. No meio da fumarada, viu Gracinha, que estava presa pelo fogo.
- Como iria salvá-la? Será que podia? Será que se o fizesse mudava a história daquele local por completo? – Questionou-se.Rino decidiu ajudá-la. Mesmo que mudasse o futuro, não a podia deixar morrer. Tinha de a ajudar!
Então, o rinoceronte foi buscar três baldes para retirar água do rio, que ficava mesmo em frente. Correu, correu e correu para chegar o mais rápido possível. Quando lá chegou, apareceram dois veados, Chic e Let, que também ouviram o pedido de socorro. Com trabalho de equipa, apanharam a água e despejaram-na sobre o fogo. Extinguiram o suficiente para Gracinha, com um grande salto, estar a salvo. Não mudou nada do futuro daquela terra, porque, mesmo que Rino não tivesse ajudado, Gracinha estaria a salvo com a ajuda dos veados. Rapidamente, o rinoceronte colocou Gracinha em cima de um veado e foram para o castelo.
Quando lá chegaram, Gracinha foi examinada por um médico. Felizmente, estava tudo bem. Contudo, não havia explicação para o desaparecimento da madrasta, nem razão para o incêndio. O rinoceronte lembrou-se do que o seu irmão tinha dito “Eles amavam-se, porém um dia houve um incêndio inexplicável.” Como não podia fazer nada nem investigar, porque mudaria o futuro, decidiu saltar 20 anos para 1810 de modo a conhecer o desenrolar da história. Meteu-se na máquina do tempo e clicou nos botões.
- UOUOOUOUOUOUOU! Tenho de dizer ao meu irmão que andar de ano em ano me provoca alguns enjoos. – Ziguezagueou novamente.
Rino olhou em seu redor e reparou que o bosque tinha mudado. Curioso, caminhou até à árvore onde tinha visto pela primeira vez a espécie de borboleta. A árvore estava mais escura, aliás todas as árvores estavam mais escuras, devido à poluição das fábricas, o cheiro a fumo era mais forte e por isso agora eram as borboletas pretas que estavam camufladas nos troncos escurecidos. Ou seja, notavam-se mais as brancas, ao contrário do que tinha observado antes, estando estas mais expostas aos predadores esfomeados. A revolução industrial causou um desequilíbrio dos ecossistemas, a extinção de algumas espécies e a evolução de outras. Rino tirou-lhes algumas fotografias e seguidamente sentou-se encostado à árvore a escrever tudo o que tinha observado, para completar o seu trabalho.
De repente, começou a chover. Não uma chuva qualquer, chuva ácida. Rino pegou na sua mochila e correu para se abrigar. A chuva ácida é uma das consequências da poluição atmosférica, causada pelas fábricas, carros, entre muitas outras ações prejudiciais do ser humano. Os gases desta poluição reagem com o oxigénio do ar e o vapor de água, transformando-se em ácidos que vêm para a superfície terrestre através da chuva. As chuvas ácidas têm muitas consequências, nomeadamente a morte de muitos animais e plantas e a destruição de habitats. Para além disso, também danificam os oceanos, destroem e corroem os monumentos e os edifícios.
Quando a chuva passou, Rino deslocou-se para a máquina, para poder finalmente regressar ao seu tempo. Porém esta estava desfeita e o rinoceronte não sabia consertá-la. Ficou muito aflito. Como iria voltar ao presente? E se não conseguisse voltar para a sua casa e para a sua família? Sentou-se no chão a pensar numa solução para resolver o problema.
Algum tempo depois, apareceu um rapaz muito bem arranjado, que trazia um livro nas mãos. Era Alexandre, filho do Rei e de Gracinha. Estes, depois do incêndio, tinham casado, numa cerimónia linda, e tiveram cinco filhos: o mais velho, Solteirão Júnior; a segunda mais velha, Maria; a do meio, Valentina; o segundo mais novo, Alexandre; e a filha mais nova, Frederica. Quanto à madrasta do Rei, era agora uma estrelinha no céu. Alexandre reparou que algo se passava quando olhou para a carinha de Rino. Foi ter com ele e perguntou o que se passava.
- As chuvas ácidas destruíram a máquina que o meu irmão inventou. – Lamentou o rinoceronte.
- Vou dar-te uma dica. Tudo é um puzzle. A vida é um puzzle. Só tens de começar por uma ponta e ires encontrando as peças que encaixam. Se errares não faz mal, faz parte do caminho. Com a máquina é igual. Monta peça a peça e, se faltar alguma, improvisa com o que tens à tua volta. Agora tenho de ir, porque tenho aulas, mas, se precisares, eu venho ajudar-te no intervalo.
- Muito obrigado! A tua ajuda foi preciosa. – Agradeceu com um sorriso.
O menino retribuiu-lhe o sorriso e seguiu. Depois, Rino ajoelhou-se perante a máquina e peça a peça foi tentando montar as que sobravam e que estavam pouco corroídas pelas chuvas ácidas. A máquina já estava quase toda montada, faltava só um buraquinho, mas não tinha mais peças. Onde arranjaria algo para colocar ali? Nesse preciso momento, caiu uma flor na cabeça de Rino e decidiu colocá-la no tal buraquinho. Entrou na máquina, carregou no botão e voltou para o presente.
- UOUOOUOUOUOUOU! Finalmente no presente. Estava a ver que nunca mais regressava. Olá, maninho. – Cumprimentou, contente e aliviado por ter voltado a casa.
- Olá. Estás bem? O que se passou com a máquina? Está em pedaços!
- Sim, estou bem, mas, quando estava em 1810, caiu uma chuva ácida que quase destruiu a máquina. Consegui repará-la para poder voltar. Funciona, apenas provoca alguns enjoos.
- Ainda bem que estás aqui! Vou reparar a máquina. – Informou o irmão. - Está bem. Vou fazer o meu trabalho de história. – Declarou Rino.
Dias depois, Rino apresentou o seu trabalho à turma, no qual contou tudo sobre Gracinha e o Rei, sobre as borboletas e como estas evoluíram devido à Revolução Industrial e sobre as chuvas ácidas. Quanto ao seu irmão, conseguiu arranjar a máquina e fazer uns reajustes para não provocar enjoos. Foi reconhecido com vários prémios, tornando-se a pessoa mais nova a inventar algo que mudaria o futuro para sempre, nomeadamente o futuro da ciência, pois com a máquina do tempo passou a ser possível estudar a evolução com uma eficácia nunca antes alcançada!